terça-feira, janeiro 08, 2008

COMENTARIO - CONTINUAÇÃO OU EVOLUÇÃO??


Comentario ao post CONTINUAÇÃO OU EVOLUÇÃO??
É possível mudar o pólo aquático em Portugal? Há possibilidades disso ou não vale a pena?

Sem sombra de dúvida é possível mudar o PA português. Na verdade, esta modalidade já está a viver mudanças. E mudanças positivas(!). Estou no Pólo português há mais de 6 anos e vejo um certo crescimento não só de quantidade de praticantes, mas também da qualidade de jogo praticado. Antigamente nos campeonatos de formação havia um, dois atletas que marcavam golos do meio campo, o resto da equipa tentava aguentar-se em cima da superfície. Neste momento temos equipas, mesmo de Infantis, que já são completas (pelo menos com 7 inicial). Já podemos ver o jogo mais técnico e mais táctico. A preparação física e natação também evoluíram. Começam a aparecer Clubes que tentam trabalhar como escolas de PA e obter alguns resultados positivos (CPN, Gespaços, Fluvial, Gondomar, Salgueiros, Portinado e outros…). Aparecem Técnicos, Árbitros, Dirigentes que sabem que a modalidade não traz muito dinheiro, mas com a sua paixão(!) pelo Pólo Aquático tentam fazer tudo o que é possível para melhorar, para crescer, apesar de todas as dificuldades que existem em Portugal. Temos mais Clubes a participar nas competições Europeias e, apesar das goleadas (e humilhações) levadas, obtêm uma experiência insubstituível…
…Em geral vê-se a vontade das pessoas envolvidas de evoluir(!).

O sucesso não tem grandes segredos – é preciso treinar. Isto toda a gente sabe. O segredo é conseguir criar condições para treinar. Em Portugal, de momento (em geral), não se tem essas condições. Horários tardios, abandono da modalidade depois do escalão Juniores, instalações não adequadas (falta de ginásios equipados ou mesmo de plano de água), falta de investimento e apoio financeiro, são algumas das razões que não permitam a evolução esperada.
O que se pode fazer?
--Em primeiro lugar encontrar as pessoas que realmente querem fazer(!). Pessoas que querem trazer mudanças positivas ao Pólo e que colocam este objectivo acima das ambições próprias,
--O Seleccionador apresentou um projecto de evolução até 2012, que deveria ser seguido e posto em pratica nos clubes no dia a dia,
--Os Atletas seniores e os Técnicos deveriam dar o seu melhor no presente para servir de exemplo para os atletas jovens. Todos percebem que ir aos próximos Jogos Olímpicos é impossível, mas os Cadetes de hoje já podem viver este sonho no futuro.
--Trabalhar com as Direcções das Piscinas, com os Clubes, com as Câmaras, com as Secções de Natação, … para conseguir horários «nobres» de treinos. Criar instalações só para prática de Pólo Aquático. Eu considero este factor um dos fundamentais, porque treinos tardios prejudicam a vida do atleta em si e a vida da família inteira.
--Treinos bi-diários são uma necessidade. Mas sem horários «nobres», só são possíveis com entusiastas, casos individuais ou por um período bastante curto. Não tem lógica acabar o treino às 23h00 e começar o outro às 6h00, porque uma parte indispensável do treino é a recuperação. Mas com um programa assim, quando os atletas devem trabalhar ou estudar entre os treinos, o esgotamento físico vai acabar com o entusiasmo bastante rápido. Sem dúvida, é preciso fazer sacrifício quando há necessidade, mas treinos às 6h00 não são solução. Concordo que treinos bi-diários (de momento) devem ser individuais de manhã (qualquer hora que o atleta tem possibilidade) e junto com equipa à noite.
Só para dar ideia a quem interessa: eu na minha infância treinava 2 vezes por dia. Estava a praticar PA numa escola. Escola de Pólo e Escola normal (em Portugal, acho que é a Secundária) tiveram um acordo; os atletas foram integrados nas turmas de desporto, só com desportistas (isto podia ser turma só de PA, ou mista, por exemplo com Andebol). Os treinos foram conciliados com as aulas de forma a não interferir;
Um exemplo;
2ªfeira-Sabado 08h00 aula
09h15 treino da manhã
11h30 aulas;
17h00 ou 18h00 treino da tarde.
Um treino de manhã no Domingo.

Estágios nacionais com mais de dois dias? Há disponibilidade?

Sem dúvida, com estágios de 2 dias não se ganham Jogos Olímpicos. As equipas de alto nível passam meses a estagiar, fazem vários Torneios de preparação. Em Portugal, de momento, isto é impensável. Mas com estágios de 2 dias pode-se chegar a ganhar a Selecções como Irlanda, Suiça, Israel e outras deste nível e ir aos Campeonatos da Europa. A equipa Sénior no Campeonato da Europa – é uma notícia que vai (que deve) chamar atenção da Imprensa para a modalidade. O que, por sua vez, deve puxar mais investimento financeiro para o PA. E não só financeiro: as escolas de Rugby encheram-se de meninos com vontade de praticar a modalidade depois da campanha na TV. E a Selecção de Rugby também levou umas derrotas bem pesadas durante o Campeonato do Mundo. A questão é como(!) dar a notícia.

O interesse e investimento devem criar em Portugal condições de Pólo Aquático semi-profissional(!).
Eu considero PA semi-profisional a fase necessária para o crescimento.
No meu entender, nesta fase os Clubes têm contratos anuais (ou num período mais prolongado) com patrocinadores. Estes podem ser Empresas particulares, Câmaras, Freguesias, podem ser só um ou vários. Sei que não é fácil, mas já temos exemplos (CDUP, SCS, Louletano…) que conseguiram. O Portinado obteve apoios da Câmara e da Junta de Freguesia para participar na Euro League e assim promover o nome da Cidade. Não sei qual é o acordo que os clubes acima nomeados têm, nem é da minha conta, mas os patrocínios devem resolver todas as necessidades financeiras dos clubes: participação nos Campeonatos Regionais e Nacionais, apoio financeiro aos atletas (apoio, não é um salário), participação nos torneios, encontros, estágios no estrangeiro, equipamento.
Nesta fase tem que se convidar mais especialistas estrangeiros com bom conhecimento de PA, para trabalhar nos Clubes, fazer cursos de formação, etc… Convidar bons atletas para integrar as equipas. A experiência dos países como Israel, Malta, Turquia e vários outros prova que bons jogadores integrados nos clubes o ano todo trazem grande evolução. Estrangeiros têm o que partilhar com os portugueses.
Outro momento extremamente importante é a Licenciatura. Em Portugal não há Universidades que preparam Técnicos de Pólo. Na verdade, poucos países preparam especialistas em PA, mas há bastantes que apoiam os estudantes. Nos Estados Unidos os atletas não pagam os estudos enquanto representam alguma Universidade. É necessário achar maneiras de interessar os atletas talentosos a seguir a carreira no PA. Estatuto de alta competição, pelo que eu entendi, não é a solução ideal.(?)

Mais contacto internacional? De que maneira?

Sem duvida sim; quanto mais melhor. Só nos jogos com as equipas totalmente desconhecidas de nível mais elevado, em condições totalmente diferentes (fora de casa) se pode criar atletas de bom nível.
A FPN tem dificuldades financeiras; há poucos Torneios Internacionais organizados dentro de Portugal. Os Clubes portugueses deveriam procurar encontros com os Clubes estrangeiros (espanhóis em primeiro lugar, que é mais próximo e que tem Pólo bem mais desenvolvido). Sei que já há clubes a trabalhar nesta direcção. Deve haver mais encontros, jogos treinos, estágios, torneios destes. As competições no estrangeiro trazem uma motivação muito forte para os atletas Jovens. E na verdade, para os Seniores também.

Provavelmente expor estas minhas ideias seja útil para alguém.

Acho que, de momento há uma certa falta de companheirismo entre os Clubes, as Associações, o Conselho de Arbitragem e a FPN em Portugal. Mas volto a dizer que vejo no Pólo português pessoas com muita vontade de evoluir e passar a ser respeitadas no Pólo Europeu e Mundial. Se todas essas pessoas conseguirem juntar os seus esforços o sucesso é inevitável.

Abraço a todos
Evghenii Trubetcoi